domingo, 2 de outubro de 2011

Mais um absurdo ...


Estorias como a de Maria Ana, por muitos anos no silencio, comecaram a romper a barreira do medo e vir a tona com a Operacao Despertar. Esses relatos nos fortalecem, pois atraves deles vemos a importancia dessa mobilizacao historica - na luta pelos direitos humanos.
A filosofia de exigir o maximo e dar o minimo, de coagir tentando colocar mordaca nos trabalhadores, deveria ter sido extinta com a abolicao da escravatura. 
E' sabido e alardeado que o maior bem, o maior patrimonio de uma empresa ou de uma instituicao e' o seu funcionario, mas parece que falta vontade politica ao MRE em querer reconhecer e resolver a questao.  
A estrutura caduca do Itamaraty, onde a politica de pessoal e' inexistente, precisa de urgente intervencao. 
Nao vamos desistir em pleitear o que e' justo, correto e humano !

Operacao Despertar


Meu nome é Maria Ana Prestel Cárdenas Z., nasci em Rio do Sul - SC, em 17-05-1948.

Fui convidada em 1972, depois de trabalhar durante 4 anos em empresas de Curitiba e Guarapuava, a me apresentar no Consulado-Geral do Brasil em Munique, pelo então chefe, Sr. Mário Calábria, que procurava uma secretária bilingue. O início das minhas atividades junto ao Consulado foi 1º de maio de 1972, e, em 31 de março de 1974,  me desliguei do Consulado por razões familiares. Em 16 de setembro de 1975 fui readmitida no Consulado, já que o mercado local não era muito acessivel para o idioma português. A partir de 1976 as auxiliares do Consulado começaram a se preocupar pela aposentadoria, que não estava regularizada. Enviamos vários expedientes para o MRE, e, sempre tivemos a resposta de que o assunto estava sendo resolvido, que seria proibido (conforme a legislação brasileira vigente da época) o nosso registro na lei local alemã, pois eramos funcionários do MRE;  nos cadastramos 5 vezes para a devida regularização junto às autoridades brasileiras competentes. Infelizmente nunca chegou resposta afirmativa.

Em 1996, quando eu contava com 23 anos já trabalhados no Consulado, chegou a ordem do MRE, de colocar-nos na lei local alemã, dizendo que tudo seria regularizado. Detalhe: nos quiseram obrigar a assinar um novo contrato, dizendo que fomos admitidas naquele dia, e os 23 anos já trabalhados, seriam simplesmente - ignorados - esquecidos. Duas colegas minhas e eu contactamos um advogado em Brasília, para conseguir uma cautelar, livrando-nos assim, da obrigatoriedade de firmar o novo contrato. A partir daquela data, o salário, que não havia sido aumentado desde 1989, ficou congelado (até hoje), isto é, fomos punidas pela ousadia de ter procurado o nosso direito, isto é, o direito de não perder 23 anos de serviço. Tive uma colega OC, enviada de Brasília, que tinha o mesmo tempo de serviço e a mesma idade minhas, fizemos as contas para a possível aposentadoria depois do tempo cumprido, ela está aposentada desde 2002, e, eu, em 2011, continuo trabalhando, tentando manter minha saúde,  o que é impossível, pois com o ritmo de trabalho, a discriminação e as humilhações que sofremos tudo se torna mais difícll. Neste meio tempo, a cautelar virou processo, e, depois de 13 anos, parece que desde julho deste ano meu processo está sendo digitalizado no Supremo. Será que será finalizado algum dia? Enquanto não houver uma conclusão do processo junto ao Supremo, estarei presa ao Consulado, sem poder desfrutar da aposentadoria (conto, no momento, com 42 anos trabalhados, 38 no Consulado, e 4 no Brasil) me sinto uma escrava do sistema, pois parece que o lema do MRE é, de manter-nos trabalhando até parar no cemitério, pois então poupariam qualquer gasto de aposentadoria.

Que "Viva a Lei Áurea", que foi aplicada em todo o território nacional -  mas parece que ainda não chegou ao Ministério das Relações Exteriores em Brasília. 

Maria Ana

3 comentários:

  1. Prezada Maria Ana,
    Solidarizamos com seu problema e admiramos sua coragem em se expor. Seu caso registra uma das inumeras tristes verdades e abusos de poder, que a "administracao" do Itamaraty faz questao de finger nao existir e ver. O contribuinte e eleitor brasileiro esta somente agora percebendo aos poucos, como este grupo de coorporativistas priorizam seus proprios interesses, muitas e muitas vezes pessoais, sobrepondo-se principalmente a leis trabalhistas, dentre outras, leis estas que deveriam ser aplicadas e respeitadas. Mas acredite, isto esta mudando, e os casos absurdos como o seu romperao esta farça e fachada que vem sendo mantida ao longo de inumeras decadas, farça esta, de gritante falta de caráter e profissionalismo dessas pessoas que, como brasileiros natos, jamais aceitaremos, como os "representantes" de nossos interesses de cidadaos brasileiros, que vivem no exterior.
    Seus amigos de Londres.

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  2. Ana Maria, reforcamos o apoio e a solidariedade dos colegas de Londres e declaramos que essa agressao aos direitos humanos, basicos, esta chegando ao fim!
    Quando comecamos a Operacao Despertar sabiamos que a batalha seria longa. Nao vamos desistir ate vermos a justica ser aplicada a todos os funcionarios, por anos desrespeitados e explorados.
    Seus colegas dos Estados Unidos da America.

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  3. Ana Maria, espero que você conseguiu a sua aposentaoria hoje, ano 2013! Tenho 40 anos de servico na Embaixada no exterior e, pelo Decreto 1.570/95, näo tenho mais direito de aposentadoria, nem pela lei brasileira (CLT) e nem pela lei do país. O MRE (Itamaraty) é uma vergonha.
    Boa sorte Ana Maria.
    Um forte abraco de um ex-auxiliar administrativa com fome e sem teto.

    "40 anos de minha vida"

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